sábado, 7 de agosto de 2010

(Título dado em homenagem e respeito 
à Marise de Santana) 


Fixo olhar ao longe e me vejo perto. 
Agachando-me, quase me arrasto. 
Nesse instante, 
vejo uma caixa de madeira retangular.
Alguns o chamam de baú e
usam-no para guardar
livros, roupas e jóias.
No meu, guardo apenas espantos,
medos, angústias.
Ajeitando-o, 
de um lado para outro,
acabo por abri-lo.
Fazendo isso, 
ouço gritos medrosos.
Vejo caras famintas de animais 
(humanos?)

Olhando pro céu,
visualizo um pássaro metálico.
À minha frente, notebooks e MP X.
Pelas ruas,
prédios de taipa,
inundação seca.
Muita seca.
Muito seco! 
Volto a mim,
e reviro-o com força. 
Minhas mãos são puxadas. 
Meu corpo é puxado. 
Ao passar em Nasdaq, 
embaraço-me em números painéis. 
Debato-me como uma aranha presa em teias
virtualmente reais e escorrego, 
fazendo-me cair em meio a palmas cruas, 
ironicamente,
cozidas pelo sol. 

Indo ao Japão,
me estarreço com o trem bala.
Esta que aqui,
me acorda;
ali, me assusta;
que lá, me amedronta
e acolá,
me mata.
No país do carnaval,
presencio o jegue, 
o burro, o bode. 

Numa foto,
vejo o índio,
o asiático,
o europeu-africano.
Ouço o som da percussão,
do pau-de-chuva...
piano.

Improvisando a harmonia,
crio ritmos dançantes.
Num (mesmo) país, 
de menos dez a
quarenta positivos,
usa-se lã, 
couro e 
peles. 
Usam-se plásticos, 
papelão e 
jornais. 
Alguns são aquecidos,
outros esquecidos.
O condicionador condiciona não ar.
Mas  o corpo. 
Mas a mente. 
Nas marquises,
mais um dorme ao relento 
sem alento.

Por entre as casas,
TV a cabo,
LCD e net.
Fibra ótica,
rádios a pilha,
candeeiros e gatos...
de  luz, de  água...
Entro no carro,
curto um som ambiente. 
Por fora, 
uma flanela é sacudida,
é estendida. 
No ônibus, 
som estridente, 
vozes várias, 
apertos múltiplos. 

Pela orla,
desfruto o mar.
Por Saint Keit, aprecio
uma paisagem enfeitada de palafitas,
de depressões,
geograficamente mentais.

Nas periferias,
sem céus,
só se arranha
nos barracos de madeiras plásticas. 
Na abundância da pobreza, 
se atracam protestantes; 
se esbarram evangélicos e se desejam católicos.
Em meio à fé, 
engodos e interesses desinteressantes.  

No chão de barro vermelho,
mesa-branca.
Aos concretos,
templos-castelos.
Castelos? 
De manhazinha, 
mesa farta,
sucos fartos,
frutas fartas.

Ao meio dia,
mesa farta,
sucos fartos,
frutas fartas.
De noitinha, 
mesa farta,
sucos fartos,
frutas fartas.

Na outra ponta,
café colorido de preto.
Mais tarde,
a cola,
a erva
e a pedra
pintam tudo de uma cor
brancamente pálida.
Com vinte e dois anos calibre, 
três oito. 
Pobre rico.
Rico pobre. 
Não se encontram
só se separam 
no Quinta; 
no Campo 
e no Jardim...
democraticamente
excludente da Saudade
onde micróbios e germes somente 
promovem a união
ao fazer um banquete eclético.


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