Que seja violenta minha poesia
Que seja ferro e fogo
pau e pedra
Que seja dor,
quando preciso for
Que seja real
Ferozmente natural
Que seja do gueto,
periferia ou favela
que assim seja ela
Quero minha poesia
não vazia
cantando outra Bahia
Que fale de quem mora nas marquises,
e que não pode ter crise
essa poesia sem psicólogo
Que fale da paisagem
nem tão verde
aquela cinzenta e amarronzada
do condomínio bloco à vista
Uma poesia que pega ônibus
e pula janela
poesia que mergulha embaixo do torniquete
pula a borboleta
e pega traseira por falta de transporte
Uma poesia que cata lata e lixo
que o diga Carolina
Essa poesia que cata resto de feira
Que é doméstica. Não mais mucama
Uma poesia escrita a sangue
Aquele derramado todos
dias nas vielas, ladeiras e escadas
fruto de vários tipos de violência
e mostrado como show nos canais de tv
Uma poesia que bate atabaque
e come de mão
que toma a benção
e bate cabeça
uma poesia de pés no chão