quinta-feira, 30 de outubro de 2014


Pela janela um espelho
Telha, muita tábua
E tanta madeir’ (ichi!)
é que vejo
É o que me ver

Muito mato.
Mato-me de só olhar uma criança
menina de rosa cor

A fragilidade em meio a escassez
não chega e cega

Cerca de arame
ou bambu chinês
num Brasil brasileiro

Varal de estacas
e panos estendidos
Assim como meu espanto

Um céu azul de nuvens poucas em contraste
com chão de barro
com asfalto de meio fio, meu fio

Água de balde e frio intenso
de calor
Num condomínio qualquer

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Eis que me vem à mente a imagem da capoeira sendo perseguida, como capoeiragem, ou ainda, como vadiagem. Capoeira como crime. Criminosa. Por isso mesmo, condenável pelas autoridades do século XIX.



Todavia, com o passar do tempo, já no século XX, a capoeira teve enfim a chance de ser reconhecida como arte genuinamente brasileira pelo então presidente Getúlio Vargas. Podendo, assim, atravessar o atlântico, chegando a virar coisa de “gringo” e, em alguns casos, apenas deles, mas isso é outra história.

Hoje, porém, é possível ver essa dança luta, graças ao esforço de muitos mestres e professores anônimos, adentrando o espaço formal e conservador da escola_pública principalmente_através do programa Mais Educação. Quem diria? A capoeira, por tanto tempo perseguida, hoje frequenta os bancos escolares, inclusive, aqueles acadêmicos.
Capoeira arteira e de sotaque.

Infelizmente, o frequentar da capoeira a tais espaços não se deu de forma harmoniosa, já que quiseram uma capoeira com método; com começo, meio e fim.  Quiseram um mestre com diploma, quiçá, certificado. Um mestre independente por muito tempo não foi bem quisto. Não era o foco um mestre baseado em experiências adquiridas no dia a dia da capoeira: uma roda, um armar de berimbau, uma palma rítmica envolvente, um reverenciar daquele que é o leme da capoeira, o berimbau. “A palma de Bimba é um, dois, três”.

Dessa forma, lá se foi o mestre em busca do bendito diploma. Não para satisfazer os burocratas e preconceituosos. Mas, sim, porque entende ele que, estando inserido no espaço da periferia, onde historicamente nós, jovens e negros, temos sido desprovidos de referências positivas, faz-se necessário estudar com afinco e dedicação, como forma de demonstrar que outra história é possível. Por tudo isto, parabéns, Mestre Timbó. Parabéns pelo esforço. Parabéns pelo canudo, que é simbólico, mas é preciso. Só nós sabemos.

terça-feira, 7 de outubro de 2014


Maria descia
batendo palmas
Esbravejava Maria

Olhares em Maria
Fitaram Maria
Ela ia
andando

Parou à porta Maria
Gritou.
Cobrou.

As palmas eram secas
Pedras ao longe
Risco na porta
E parede
E janelas quebradas

Maria sujou a tinta
por um instante
e por dois
Enquanto brotam cédulas
pela fenda rasteira
da porta

Essa Maria...


domingo, 5 de outubro de 2014


Moscou
pretérito perfeito

Moscou de moscar
é gíria
Verbo criado
Falado

Larguei o verbo, Moscou 


Mais que um verbo
Advérbio de lugar
Um só lugar em três
É um
É dois
É três
Parece jogo de criança
Esconde-esconde

Mostra-se vivência de adulto

E era barro
e era gato
inanimado era

Gambiarra, um resumo
Uma síntese se quer
daquela depressão
Rodeada de escadas

E cada escada
mil degraus
Subi de grau
Subi degrau era rotina
Menino, velho, menina
bastava subir.